Toda a minha vida quis ser bem sucedida, mulher independente, reputação profissional admirada. Também imaginei dois filhos, casalinho cliché, também desejei ter umas mamas maiores, uns dentes mais direitos, uns cabelos mais claros, uma pele menos oleosa. Para além de tudo isto, havia uma casa onde nada faltava, tudo bonito e de qualidade, luxo de revista italiana, empregada a tempo inteiro e um belo automóvel na garagem, fazendo par com a Harley Davidson do meu garboso e rico capitão. Coisas, sonhos-coisas, pecados por que Deus haveria de me fazer penitenciar. Mas isso não me preocupava, queria era hidromassagens e água quente a rodos, mordomias e boas especiarias, queria isso tudo e ser feliz. Hoje dá-me para rir, olho a folhinha do ordenado, três míseros dígitos, e penso quão puta é a função cerebral que um dia me permitiu sonhar.