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Foi-se embora, disse que não voltava, porquê? perguntasse-lhe você, eu não lho perguntei, não sei. Ia triste, bem vi, a mala pesava, um dos tacões parecia solto, ecoava torpe no chão duro, aquilo era incomodativo, a roupa acusava desgaste, a cara cansaço, ia triste, bem vi. Não deixou nova morada, não senhor, e para que lhe queria eu a nova morada? ólhameste, só vi que levava a mala de viagem e o sobretudo e mandou chamar um táxi, desconfiei que fosse de vez, mas como tinha tudo pago, não me preocupei, aquele quarto é o melhor que temos, está sempre alugado, até já tinha a D. Miquinhas à espera dele, como lhe disse, não me preocupei. Não, não vi ninguém à sua espera, estava a chover, naquela noite, lembro-me que caiu uma chuvada das fortes, só vi o táxi, até fui eu que o chamei, agora se havia mais alguém à espera, isso não sei, não vi. Só disse que não voltava, já estava quase ao pé da porta, quando se virou, ainda me lembro bem da cena, e disse: Sr. António, não volto. Boa noite. Assim, sem mais nada, fiquei a olhar, nem sabia o que dizer, não estava à espera, sabe? Depois a patroa deixou cair qualquer coisa na cozinha e virei a cabeça por uns segundos, quando voltei a olhar, já tinha desaparecido. É como lhe digo, aquilo foi sinistro...