Além do curso dos rios
Ela, a poeta, aquela que em si embala as palavras, alguém que eu já quis conhecer, ela diz-me que nada mudou, além do curso dos rios, como se um rio fosse coisa menor, um simples traço azul no mapa da escola, um pequeno leito de seixos pardos. Não, poeta, mil vezes não, todas as estrelas parando de brilhar, para ecoar este meu não. O rio que sou, que tentei ser, será melhor assim no vocabulário, não vá um dia uma criança escolher-me para analisar, aquele rio que nascia verde nas montanhas maternas, corria, veloz e sincero, buscando o abraço do mar, sua magestade, o mar, marítimo, salgado, imenso, assustador. Poeta, ouve-me, que te grito, este rio é mais do que nada, este rio é amor, não de cinema, amor interno, caudal, que abre caminhos na aridez, que sulca gravilha e encostas. Já fui rio, poeta, tens de saber.