O Foice foi embora para Lisboa no mês passado. Nascido e criado na foz, enquanto corria atrás de turista burro ou com vontade de aprender, o Foice arranhava francês, inglês e alemão, russo nada, espanhol era segunda língua, quando não confundia com o italiano. Autodidata, queria viajar, descobrir o que havia para lá do Porto e do casebre da avó. Dos mouros, gozava à fartazana, aqueles gajos não sabiam fazer nada, emproados dum caralho, pastelinhos de nata e pouco mais. Quando era puto ainda tinha ido dar uns toques no dragão, um olheiro que lhe prometia boa vida. Nervoso, os pés fugiram-lhe da bola e aquilo correu mal, do olheiro nunca mais teve notícias. O pai, que tinha sabido da oportunidade, apareceu a reclamar o rebento, imaginando-o o Figo do norte. Desapareceu nessa mesma tarde, juntamente com o olheiro. Desse dia, Filipe ganhou a alcunha.