Tu, Peter Pan moderno, sonho abortado de menino, doçura da tua mãe. Não te cabe decidir os novos estratos sociais, já não crês no deus-menino, sabes-te vagabundo, sem-mundo, sem razão e sem tesão. Na poesia, procuras o grito que nenhum movimento social, político-social ou socialmente político te consegue gerar. Com ela, ainda sentes o sangue, o sal, ainda te manténs vivo, debaixo da carapaça de subserviente com que fotocopias as páginas a cores. Com ela, mandas à merda o mundo, enquanto o mundo te enterra na sua merda, quilómetros de cimento e publicidade embalada, pronta a servir. Ejaculas no vazio, roto de mãos, os sonhos em que a tua mãe te embalou, cambaleias, tropeças, ninguém repara, os olhos dos outros habituam-se rapidamente à tua escuridão. A puta da banalidade. Hoje é domingo, continuas a sorver cigarros.