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Então, D. Rita, não chore. Está a chorar porquê? Nós não lhe fazemos mal. Fazemos? Como? Está triste? Não esteja, vai ver que não dói nada. É uma brisa. Então não quer ir ter com o seu marido? Olhe que até é bonito, aparecer-lhe lá de surpresa. Há quantos anos é que ele se foi? Sete? Então, mais uma razão, já deve ter saudades dele. Não tem? Pois. Está a ver que tenho razão! E olhe que sete anitos solteirinha, deve ter aproveitado bem. Marota. É marota, a D. Rita, não é? Ai é, é. Com esse sorriso tão bonito. Vá lá, não chore. E a dentadura, minha querida, quer ser enterrada com ela ou prefere deixá-la ficar de recordação à família?  Há quem guarde. É verdade. E a D. Rita tem uns dentes bem jeitosinhos, deve ter gastado uma pipa de massa. Uma pena não se guardarem. Como? Não, claro que não! Nem pensar! Se a D. Rita quer levar as alianças, pois claro que leva. A D. Rita é que manda, o funeral é seu.