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Se eu escrevesse como o cabrão do Jonathan Littell, era assim que festejava o domingo de manhã:

Se nasceram num país ou numa época em que não só ninguém aparece para matar as vossas mulheres, os vossos filhos, mas em que ninguém aparece também para vos dizer que matem as mulheres e os filhos dos outros, dêem graças a Deus e vão em paz. Mas mantenham sempre presente no espírito esta ideia: talvez tenham tido mais sorte do que eu, mas nem por isso são melhores do que eu. Porque no momento em que tenham a arrogância de pensar sê-lo, aí começa o perigo. É agradável opor o Estado, totalitário ou não, ao homem comum, percevejo ou pé de cana. Mas esquece-se então que o Estado é composto de homens, todos mais ou menos comuns, cada um com a sua vida, a sua história, a série de acasos que fizeram com que um dia um deles estivesse do lado bom da espingarda ou da folha de papel enquanto outros estavam do lado mau. Esse percurso só muito raramente é objecto de uma escolha, ou igualmente de uma predisposição.