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Spoilorando best sellers...


"Importa-se que eu seja a sua família?", perguntou ele, quebrando um longo silêncio melancólico.

Dona Graça olhou-o, surpreendida, algures entre intrigada e divertida.

"O senhor? Minha família?"

"Sim, porque não?" Encolheu os ombros. "Se ninguém a vem visitar, o que tem a senhora a perder?"

Ela baixou os olhos verdes, subitamente brilhantes pela comoção; não esperava tanta generosidade daquele estranho para com uma velha que a família parecia ter esquecido.

"Está bem", sussurrou, quase inaudível. "Pode ser". Tomás estendeu o braço à mãe e ficaram ali os dois sentados, de mãos dadas, ambos a fruir o calor terno e meigo da mão do outro, a desfrutar das carícias doces do sol da manhã, do grinfar melodioso das andorinhas, do aroma revigorante da relva, e do rumor das árvores a ondularem suavemente. Deixando-se embalar por aquele concerto da natureza, Tomás admirou a verdura com os olhos de quem sabe que tudo é fugaz, a vida é fragil, o que começa há-de acabar. As plantas e as flores farfalhavam diante de si como se o ritmo a que dançassem tivesse a marca da eternidade, quando afinal eram tão efémeras quanto a brisa que as agitava.

FIM 


José Rodrigues dos Santos, O Sétimo Selo

4 comentários:

  1. Ah, o aconchego do lugar comum. Sem espanto, sem ganho. Assim se fabricam best sellers.

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    1. 320 páginas ansiando o frémito aconchego das mãos da D. Graça.

      (deu-me uma bela ideia, vou mudar o título)

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  2. O Zé é um meloso! :P

    Boa noite, Carlinhos. :)

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